segunda-feira, 10 de setembro de 2007

a mesma lei para o Leão e o Boi é opressão!



Se qualquer pessoa passar algumas horas estudando sobre o darwinismo-social e eugenismo, com certeza vai achar muitas pessoas de que é fã envolvida com essa idéia de produção de uma raça superior. Até o poeta Willian Blacke (1757-1827), deixou sua opinião gravada na história sobre o não direito da igualdade entre nós humanos: "a mesma lei para o Leão e o Boi é opressão!".


Ou seja, no interior de um hospício os códigos identificatórios seguem um sistema rigorosamente binário: ou se é funcionário ou se é louco

no brasil, ou se é bobo ou malandro.



Historiadora traça panorama da eugenia em todo o mundo e descreve a tentativa de criação de uma nova raça brasileira, no começo do século 20
Giovana Girardi
"Raça Pura" Pietra Diwan"


A autora mostra, por exemplo, que nos quadros da Sociedade Eugênica de São Paulo estavam nomes importantes da medicina paulista da época, como Arnaldo Vieira de Carvalho (o dr. Arnaldo, que fundou a Faculdade de Medicina, hoje da USP) e Franco da Rocha (que fundou o Hospital Psiquiátrico do Juqueri).
Monteiro Lobato foi um dos ícones do movimento. Seu Jeca Tatu foi pensando originalmente como uma crítica ao sertanejo, descrito como "este funesto parasita da terra, seminômade, inadaptável à civilização". Jeca só passou de "culpado a vítima", como escreve Diwan, quando virou garoto-propaganda do biotônico, que curaria todos os pobres e desnutridos do país.



JECA TATU O personagem nasceu em 1914

Jeca Tatu era um pobre caboclo que morava no mato, numa casinha de sapé. Vivia na maior pobreza, em companhia da mulher, muito magra e feia e de vários filhos pálidos e tristes

Jeca Tatu era tão fraco que quando ia lenhar vinha com um feixinho que parecia brincadeira. E vinha arcado, como se estivesse carregando um enorme peso.

Por que não traz de uma vez um feixe grande? Perguntaram-lhe um dia. Jeca Tatu coçou a barbicha rala e respondeu:
Não paga a pena. Tudo para ele não pagava a pena. Não pagava a pena consertar a casa, nem fazer uma horta, nem plantar árvores de fruta, nem remendar a roupa.

Só pagava a pena beber pinga.

"Jeca Tatu não é assim, ele está assim".



Lobato pensa o caboclo como uma praga nacional: funesto parasita da terra (...) homem baldio, inadaptável à civilização (...), responsabilizando-o pelos problemas da agricultura.


Pobre Jeca. Como és bonito no romance e feio na realidade., transformando-o num novo símbolo de brasilidade. Não por acaso, em 1924, foi criado o personagem radiofônico Jeca Tatuzinho, que ensinava noções de higiene e saneamento às crianças.




Em vários países foram propostas políticas de "higiene ou profilaxia social"

O PALIMPSESTO DA SUPERIORIDADE HUMANA Purificar a raça. Aperfeiçoar o homem. Evoluir a cada geração. Se superar. Ser saudável. Ser belo. Ser forte. Todas as afirmativas anteriores estão contidas na concepção de eugenia. Para ser o melhor, o mais apto, o mais adaptado é necessário competir e derrotar o mais fraco pela concorrência. Luta de raças. Para a política, luta de classes.

ARTIGO PUBLICADO NO ESTADO DE SÂO PAULO

"Este funesto parasita da terra é o CABLOCO, espécie de homembaldio, seminômade, inadaptável à civilização, mas que vive à beira dela na penumbra das zonas fronteiriças. À medida que o progresso vem chegando... vai ele refulgindo em silêncio, com o seu cachorro, o seu pilão (...) de modo à sempre se conservar fronteiriço, mudo e sorna. Encoscorado numa rotina de pedra, recua para não se adaptar (...) o caboclo é uma quantidade negativa.” (Lobato, 1957:271)

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0909200701.htm
"Raça Pura" Pietra Diwan"





Nesse momento, Lobato é implacável na desqualificação de toda a cultura caipira, de suas manifestações artísticas à sua linguagem e às suas práticas econômicas. Um pouco depois, no final dos anos 1910 e no bojo das campanhas sanitaristas, Lobato muda sua análise do problema: o Jeca não é mais réu, porém vítima, é a precariedade da saúde pública brasileira – da qual sofre as conseqüências, representadas, por exemplo, pelo impaludismo e pela verminose. É nesse momento que Lobato se envolve em campanhas de saúde pública.


Jeca Tatuzinho, uma espécie de “cartilha” para disseminar hábitos mais saudáveis, como andar calçado e lavar as mãos. Nesse texto, Lobato faz apologia da erva-de-santa-maria como vermífugo eficiente no combate à ancilostomose. Pode-se dizer que aqui encontramos um Lobato convertido à medicina popular das ervas.

Jeca Tatuzinho é adaptada para transformar-se em almanaque da indústria Fontoura, onde a figura do Jeca Tatuzinho vende o Biotônico, Maleitosan e Ankilostomina.



livro patrocinado pela Sociedade Eugênica Brasileira, chamado O Problema Vital. Ele, juntamente com Renato Kehl, fundador da sociedade eugênica no Brasil, pregavam que não existe cura para os males sociais, e que eles só poderiam ser tratados com o aperfeiçoamento da espécie.

Um comentário:

Unknown disse...

A que ponto chegamos meu caro amigo. Estamos desmerecendo nossa própria gente, nossa própria cultura e nos esquecendo de onde viémos!! Depois reclamam que o pais num vai pra frente!